Cartas Para Lugar Nenhum é a newsletter de JP Lima. O nome vem da ideia de que newsletters podem chegar a pessoas que eu nunca imaginaria que as leriam . Também tem um pouco a ver com esse processo meio solitário e escrever e não saber exatamente para quem.
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Inovação é superficial na nossa mão.
Essa semana interagi com um post da pessoa incrível que é
no qual ela reclamava que X-Men 97 acabou caindo num dois-ladismo meio sem pé nem cabeça próximo do final da primeira temporada. Após alguns episódios que poderiam ter sido vistos como muito progressistas, a animação recai naquilo de equivaler a reação do oprimido à violência do opressor. Magneto é um monstro, etc e tal. Ok, isso é discutível.Mas porque, quando a poeira abaixa, a escolha principal é sempre ir para o lado mainstream, chapa branca, senso comum? Bom, há razões.
Que a indústria cultural estadunidense trabalha para manter a imagem de que os EUA são a Liga da Justiça do mundo e que os países industrializados do norte global são os mocinhos da história, é fato. Também não é muito realista esperar que empresas multibilionárias façam reflexões ou construções narrativas anticapitalistas ou contra o status quo. Mas porque isso nos frustra tanto?
A verdade é que nós, millenials, vimos uma quantidade enorme de mudanças no panorama cultural em um número relativamente pequeno de anos. Vimos desenhos animados, filmes de ação e quadrinhos passarem do ideal heteronormativo da família tradicional para uma expansão rumo à diversidade e representatividade tremenda. Vimos tanta evolução que nos perturba a ideia de que “andamos tanto pra percorrer tão pouca distância”.
Vimos animações como Steven Universe, Owl House, séries com protagonistas trans e LGBTQIA+ que vão além apenas de ser “séries sobre ser queer”, e ao mesmo tempo… ainda vemos um protagonismo esmagador de gente branca, cis, hetero. Vemos comunistas como as pessoas geniais da Soberana ganhando espaço no Youtube, Instagram e falando sobre a esquerda radical. Estamos aprendendo, continuamente, sobre novas identidades de gênero e sexualidade. Mas o tempo todo nos deparamos com soluções “comuns”, tradicionais e nada inovadoras.
As grandes empresas aprenderam que quem lacra, lucra sim. Mas só tentam quando o lucro é garantido, a margem é boa, o risco é pouco. A inclusão gerada pelo consumo não é sólida. Se der mais lucro excluir os desviantes e ofender as minorias, isso não é problema que apareça numa planilha do Excel.
A verdade é que, no momento econômico e cultural no qual vivemos, todas as grandes companhias querem arriscar pouco. E é por isso que quem faz filme ou desenho de hominho que solta poderes não tende a deixar para trás ou remodelar pra valer o cânone. Há exceções, como a ousadia da Netflix em repensar Scott Pilgrim com o olhar de hoje e pensar em quanta coisa que pegaria mal havia ali.
A verdade é que manter o status quo ainda é lucrativo pra caramba, e mesmo que haja muito a ganhar ao tentar inovar, vale a máxima do “só quero saber do que pode dar certo”. Então se recicla vilões cósmicos nada originais, se remartela os mesmos arcos, as mesmas falas, as mesmas referências e tudo acaba virando uma colagem retrô com uma modernizadinha de leve.
Algo como fazer um jogo “cyberpunk” e evitar ao máximo a política, mas focar no neon e nos bracinhos robóticos. Ou trazer de volta um filme que eu lembro como um dos menos emocionantes dos anos 90, Twister. A crise criativa no audiovisual não é sintoma de “falta de ideias”. É tributária de um mundo economicamente instável no qual se objetiva lucros cada vez maiores e só se quer investir para criar algo que pareça capaz de gerar quantidade de dinheiro que fariam um dragão se impressionar com a ostentação. E eu não imagino isso mudando tão cedo, exceto pela cena independente.
Pratchett, senti saudades.
Esses tempos tenho estudado muito UX e Copywriting, mas me deu vontade de ler por entretenimento e acabei abrindo o livro Pequenos Deuses do incrivelmente criativo Terry Pratchett. Eu não sou o maior fã do autor, acho os primeiros romances de Discworld bem chatinhos, mas amo a trilogia das bruxas. Acontece que o homem fazia algo muito bem: definir o mundano de forma cômica.
Ler esse livro me faz dar sorrisos espontâneos sempre que eu vejo como ele é uma espécie de dicionário do humor e descreveria cortar um pão francês de forma legitimamente engraçada. Ele me faz rir tanto com absurdos mágicos espalhafatosos quanto com uma simples situação social de timidez e isso é notável. Não à toa eu e o
sempre o citávamos como uma das inspirações do Tempos Fantásticos .As coisas esquisitas que acontecem na vida (e porque são tão populares).
Como bastante gente sabe, eu sou não-monogâmico. Não estou tentando destruir a família tradicional (apesar de saber de várias que poderiam apenas não existir da forma tóxica e opressiva que são) mas é minha opção de forma de me relacionar. E eu tive um date inusitado.
Expliquei à pessoa que era não-monogâmico e acho que ela não entendeu muito bem, o que gerou meu maior hit da história no Twitter.
O engraçado é que nunca uma postagem minha sobre meu trabalho, sobre meus amores, sobre conhecimentos que tenho sobre diversas coisas que já fiz, gerou tanta comoção. Como provam os reality shows, nós gostamos de contemplar as esquisitices alheias. E tudo bem, eu acho?
Mas é impressionante como a gente nunca tem certeza do que vai atrair a atenção alheia.
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Até a próxima,
JP
Eu assisti alguns eps de X-Men 97 e zzzzzzzzzz chato pra cacete, jesus amado, se segura apenas (e só) na nostalgia.
E, diferente da maioria dos fãs de Terry Pratchett, eu não gosto das bruxas ¯\_(ツ)_/¯. Toda vez que vou ler um novo dele e é delas eu fico "ah nãoooooo".