Minha trajetória no mundo do trabalho sempre foi esquisita. Eu não cresci sabendo qual era minha faculdade dos sonhos ou qual era meu objetivo profissional. Venho de uma família na qual trabalho é algo que se arranja para pagar as contas, nunca uma vocação ou objetivo maior. Carreira é um termo meio assustador pra quem não pensava em se definir como “essa é minha profissão.”
Me lembro da primeira vez que uma colega, do trabalho, me falou que além da carreira profissional poderia haver uma carreira acadêmica. Até aquele momento eu sempre pensava que carreira = grana, subsistência, pagar contas. Todo o resto era “hobby”.
Isso seguiu sendo verdade mesmo que eu já tivesse outras ideias. Na minha cabeça as mesas de RPG em escolas para entreter a comunidade, as organizações de eventos culturais, os zines, os contos, minhas contribuições ao Tempos Fantásticos, as revistas que ajudei a fundar, as músicas que ajudei a compor, tudo que eu fazia fora do espaço “pagar contas” era alienação. Era o que eu gostava de fazer, mas não o que “precisava.”
Essa relação de desconexão com as atividades me gerou uma dificuldade de entender meus méritos. De acreditar que as habilidades que desenvolvi importam. Isso eram apenas coisas que eu “fazia”. O que importava era o que apareceria debaixo do meu nome se eu fosse entrevistado num telejornal.
Viradas e culpa
Quando comecei a escrever profissionalmente com mais frequência minha concepção de “o que eu faço” começou a mudar. Talvez a empresa que pagava meu salário não fosse realmente uma parte tão grande da minha identidade. O nome da minha ocupação segundo o ministério do trabalho não me definia tão bem assim. Mas ainda sobrava um melindre grande.
Desde a infância vivo uma dualidade quanto a ser cordial com quem me atende/presta serviços. Eu quero ser amistoso e simpático mas jamais que as pessoas sintam que PRECISAM ser minhas amigas porque estão me atendendo num restaurante, numa locadora (direto do túnel do tempo), numa loja.
A gente não deve ser definido pelo que faz por dinheiro, e isso não deveria ditar as relações sociais. Eu sei que é papo de comunista, mas eu detesto que me chamem de “patrão”, “chefe” ou similares num ambiente em que me prestam um serviço. Eu creio que, mesmo chefiando equipes, a ideia de ser chamado de chefe sempre vai me incomodar.
Acho que não me sinto pertencente a um lugar no qual as pessoas me olham de baixo para cima.
Tá, e o que tiramos daí?
Nosso status profissional na sociedade não deveria ser motivo para ninguém maltratar ou ser condescendente com ninguém, isso nem está em disputa. Mas isso pode trazer alguns problemas quando se tenta escalar o mundo corporativo ou disputar vagas de emprego por aí.
A cultura dos coaches, self-made men, meritocracia e similares garante que gente que veio ao mundo com tantas vantagens que é difícil até contar ache que realmente MERECE mais que outras pessoas o que tem. Maluca essa ideia de que tem gente que merece bilhões e gente que merece passar fome.
A minha geração é famosa por ser um pouco desiludida com a vida no capitalismo. A gente tenta os famosos “fake it till you make it”(finja até chegar lá), abrace o impostor, se engana pra conseguir lidar. A verdade é que, quando você não crê em justiça no mundo, como vai acreditar que merece algo? Se o mundo não faz sentido, faz sentido eu achar que devo ser feliz?
Nada de exageros, pelo menos não desse tipo.
Eu já tive uma postura que meu antigo psiquiatra chamava de “estoica”. Eu agia como se não devesse reclamar, me incomodar ou me sentir merecedor de muito. Colocava que o que fazia não era mais do que o mínimo e que sempre seria possível derramar um pouco mais de suor. Uma ótima receita para intensificar uma depressão e caminhar para um burnout.
A verdade é que a gente não pode se culpar pelo desequilíbrio do mundo nem ficar o tempo todo tentando se definir e ser humilde. A vida não é um campeonato de sofrimentos e se tolher e se martirizar não ajuda quem recebeu cartas piores que as suas. Para ser uma pessoa bem sucedida num mundo que privilegia aparências e autoconfiança, é preciso “se achar” um pouco.
Pode ser que você não sinta que “merece” o que tem, mas a vida não é sobre merecer. É sobre compartilhar, vivenciar, tentar achar alegria e gentileza para dividir com quem a gente ama. E ter conforto e dignidade, coisas que todas as pessoas do mundo deveriam ter acesso a.
Então da próxima vez que você for fazer uma entrevista de emprego, receber um elogio, se candidatar a um projeto ou algo assim, lembre-se de que não SEU trabalho avaliar suas competências. Você deve apostar em você. Quem está te julgando é que é responsável pelo que diz/faz e você deve ser sincere e confiar no seu taco.
Não torça contra o seu próprio bem estar.
O Jabá
Exercitando a ideia de aceitar os biscoitos, vim aqui jabazear as coisas que faço.
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Você deve ter ouvido por aí faço leitura crítica (avalio seu texto e dou sugestão de melhoria), dou aula de escrita não-acadêmica, escrevo por encomenda, traduzo inglês-português, trabalho com RPG e jogos de tabuleiro. Interessou? Me manda um e-mail no joaopedro.lgoncalves@gmail.com
Adorei o texto! 🥹
Adorei a forma que você fez o seu portfólio. :) Me identifico com alguns dos seus sentimentos. Sorte pra nós! :)