Cartas Para Lugar Nenhum é a newsletter de JP Lima. Aqui ele escreve sobre mudanças de estado e de vida, valorizar o próprio trabalho, política, não-monogamia e um monte de coisas da cultura entre literatura, jogos, séries e etc.
O nome dessa newsletter vem da ideia de que newsletters são uma espécie de blog compacto via mail e que ela pode chegar a pessoas que eu nunca imaginaria que leriam algo que, em tese, vai via email. Também tem um pouco a ver com esse processo meio solitário e escrever e não saber exatamente para quem, mas sempre bebendo das fontes e me inspirando nas newsletters e trocas com outras pessoas (oi,
).Não importa em quem essa publicação chegue, eu espero que entretenha, divirta, inspire ou cause curiosidade a quem a ler.
Se quiser apoiar meu trabalho você pode dedicar 10 reais mensais ou 80 anuais e me ajudar a produzir com mais frequência e menos hiatos. O meu ritmo de trabalho anda maluco e acabo escrevendo menos na newsletter do que gostaria, e quero mudar isso. Compartilhar, recomendar e comentar também ajuda muito a manter a vontade =).
Desde que me mudei para a Bahia, é basicamente disso que eu falo aqui. Eu sei que para muita gente vir morar em Salvador é um completo sonho, e eu entendo bem o porquê. O ar é puro, tem praia pra todo lado, a comida é ótima (apesar da ausência notável de pão de queijo nas padarias), tem uma cena cultural maluca e fervilhante e dá vontade de explorar.
Um dos lugares que mais me fascinou nessa cidade cheia de maravilhas a observar não foi uma praia, um monumento ou o espaço de uma das festas mais tradicionais. Foi um bar/cachaçaria para o qual a maravilhosa Verena Morais (te amo, mulher) me levou.
O Cravinho é pura magia, eu entrei naquele lugar e saí cheio de ideias para continuar o meu muito adiado romance de fantasia urbana. Imagine um bar com interior de madeira, cheio de potes de picles e conservas estranhas (não aptos para consumo, apenas decoração) e com barris próximos do teto dos quais saem canos que vão para essa monstruosidade maravilhosa aqui:
Cada uma dessas torneiras é uma infusão diferente, das mais triviais até algumas cujo nome nem ouso falar. Não dá pra não pensar em poções, segredos, mistérios e em como essa cidade às vezes é tão repleta de coisas maravilhosas que o que impressiona o pateta paulistano aqui é um monte de torneiras.
Existem muitas diferenças da minha vida aqui pra minha vida em São Paulo. Me afastei de uma parte da minha família que me causava muita dor, deixei de morar no lugar de sempre, sinto falta de muitos dos meus amores mas hoje eu quero falar sobre aspectos mais subjetivos.
Aqui eu estou criando novos sonhos, aspirando a novas metas. Se ignorarmos o fato de que os sonhos daqui realmente são diferentes (recheio de goiabada é o padrão), a verdade é que me colocar em movimento me ajudou a ter novas perspectivas.
Eu fui, por muito tempo, um daqueles paulistanos que achava que nunca se acostumaria a viver fora da loucura do caos e da correria daquela cidade. A verdade é que não é do metrô (apesar de Salvador ser uma cidade pensada para carros), das feiras de rua (saudades pastel enquanto compro legumes), ou das mil opções de restaurantes que sinto mais falta. Eu sinto falta de pertencer.
A comunidade não-monogâmica é até bem presente aqui, mas eu ainda não achei meu grupinho. Não é tão fácil conhecer as pessoas de cabelos coloridos, cheias de tatuagens e piercings ou dispostas a mesas de RPG por aqui. Eu sinto falta das comunidades que ajudei a construir em São Paulo. Mas vir morar aqui também me tirou de uma espécie de inércia agoniante.
Eu não conheceria o Cravinho e iria lá várias vezes para buscar referências, nem me exporia a tantas minúcias de um lugar tão diferente se não tivesse saído de São Paulo. Eu não teria uma ideia minúscula do que é sofrer um leve preconceito e ser visto como um babaca vindo de um lugar cheio de branco colonizador (eu sei, não chega nem PERTO do que pessoas de outras regiões passam no Sudeste). Eu não me pegaria pensando em como posso ser diferente quando não estou nas mesmas condições de temperatura e pressão.
Eu jamais quero ser o tipo de pessoa positiva tóxica que diz que todo perrengue é uma oportunidade e que acha que demissão humanizada com balõezinhos é algo digno. Mas assim como eu consigo me acostumar com sonho de goiabada, o pãozinho delícia no lugar do pão de queijo e não conseguir ir a espaços com os quais estava tão acostumado, eu posso aprender a construir um vida em outro lugar.
Se eu negaria uma oportunidade profissional incrível ou um projeto impressionante que me chamasse para outro estado, e até mesmo de volta para São Paulo-Capital? Depende. Mas Salvador está me ensinando a entender o quanto algumas formas de qualidade de vida importam, e isso não é balela.
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Até a próxima,
JP