Sinto que apenas a continuidade e perseverança tendem a tornar certas iniciativas dignas de crédito. Recomeçar é sempre estranho, uma nova newsletter, um novo emprego, uma nova casa. Esse texto fala de mudanças e de novos começos, algo que parece ser uma constante na minha vida pós 30.
Se a vida adolescente é uma eterno “eu só quero me encaixar numa tribo”, para mim, a vida pós 30 é “só quero um lugar no qual eu não precise fingir ser algo que não sou.” A gente vai se consolidando como pessoa e entendendo que tem limites o quanto a gente consegue fingir aceitar um discurso ou uma ideologia à qual é totalmente contrário. Acabamos fazendo par apagar as contas porque o capitalismo é essa coisa abominável, mas acho que sentir que não se precisa mais se mexer tanto para se encaixar é um privilégio.
E aí a vida vira de cabeça para baixo.
Seja por uma morte na família (de sangue ou escolhida), uma demissão, o fim de um relacionamento, nos vemos sendo tirados com frequência daquele lugar no qual estávamos buscando estabilidade e conforto. Bora se reinventar, redefinir, tentar não surtar porque uma empresa te deu um bolo de “demissão humanizada.” Repensar como ganhar dinheiro, fazer amigues, encontrar o amor.
Mas como? Há momentos em que nada parece se encaixar. A profissão da qual você viveu foi substituída por outra, você ainda não entende o quanto o mundo mudou durante uma pandemia, o quanto sua mente mudou, o quanto isso te afetou. É um jogo de Tetris em que você nunca sabe qual será a próxima peça e fica apertando os botões aleatoriamente. A solução? Começar devagar.
Muita gente ainda usa o meme “não tenho paciência para quem está começando”, mas a verdade é que todes estamos, em vários momentos da vida, começando algo novo. Seja uma nova ocupação, um hobby, uma atividade física. O incessante recomeçar e aprender coisas novas faz parte do que nos define como seres humanos, ainda mais no capitalismo tardio do século XXI. Ser gentil e paciente com quem está começando é algo que a gente deveria tentar fazer, mesmo que apenas por empatia e alteridade.
E nem sempre tudo se encaixa e faz sentido, como se, na montagem daquela estante de livros que você comprou em promoção, faltassem alguns parafusos. A vida é feita desses encaixes tortos, adaptações estranhas e gambiarras cognitivas que a gente faz para se entender. O importante é ser gentil consigo, com as pessoas ao redor e buscar atividades e modos de pensar que ajudem todas as peças a montar, ao menos, algo bonito pra você.
Até a próxima,
JP
Obrigado por ler Cartas de JP, por ele mesmo.! Se inscreva para ver as próximas edições e apoiar meu trabalho ;)pport my work.
<3 vai dar tudo certo
mandei por email, mas aqui também: brigada por escrever e existir, lindeza <3