Cartas Para Lugar Nenhum é a newsletter de JP Lima. Aqui ele escreve sobre mudanças de estado e de vida, valorizar o próprio trabalho, literatura, mídias variadas e sobre a vida, no geral.
O nome vem da ideia de que newsletters são uma espécie de blog compacto via mail e que ela pode chegar a pessoas que eu nunca imaginaria que leriam algo que, em tese, vai via email. Também tem um pouco a ver com esse processo meio solitário e escrever e não saber exatamente para quem.
Não importa em quem essa publicação chegue, eu espero que entretenha, divirta, inspire ou cause curiosidade a quem a ler.
Se quiser apoiar meu trabalho você pode dedicar 10 reais mensais ou 80 anuais e me ajudar a produzir com mais frequência e menos hiatos. O meu ritmo de trabalho anda maluco e acabo escrevendo menos na newsletter do que gostaria, e quero mudar isso. Compartilhar, recomendar e comentar também ajuda muito a manter a vontade =).
Eu sou bom em diversas coisas, mas quase sempre me falta a coragem de dizer. Você, que está lendo, certamente também tem um conjunto de pontos fortes e fracos, e sua percepção deles depende do seu meio, da sua autoestima, da sua autoconfiança, do equilíbrio químico do seu cérebro e de quão frequentemente você recebe elogios e/ou reforço positivo. E ainda assim, a recepção pública de você dizer “sou incrível nessa coisa X” pode não ter nada a ver com nenhum desses.
Em alguns meios artísticos a pessoa assumir que é incrível é bem visto, o ego é associado positivamente a algumas ocupações: diretor de cinema, rapper amalucado (oi Ye), diva pop, ator de filmes de ação. No espetáculo da popularidade é aceito você dizer “sou foda”, mas e para nós reles mortais?
Eu tenho feito muitas entrevistas de emprego e discutido projetos com algumas pessoas amadas, incluindo o
e a e a verdade é que muitas vezes tudo parece pífio, insignificante. Eu sei da experiência que tenho, do valor que posso agregar a coisas, mas existe um bug na minha programação. Consigo falar do que entendo mas conforme me aproximo de vender e promover isso, sou acometido de surtos de vergonha. Tropeço, me saboto, me confundo. Duvido de mim diversas vezes.Cresci acreditando que o valor estava no trabalho duro e em realizar coisas, mas jamais em pedir ou aceitar reconhecimento pro elas. O “não foi nada” e o “não por isso” saem da minha boca quase automaticamente. Eu me desvio de elogios como se fossem projéteis, a menos que esteja falando com pessoas com as quais tenho uma enorme intimidade.
Dizer pretensão salarial, se apresentar em festas, explicar a razão pela qual você é a pessoa certa para uma vaga/projeto/date(!?) pode ser intimidador, ainda mais em tempos de recuperação de sanidade após o estrago que a pandemia e os últimos anos fizeram na cabeça de muitos de nós.
A verdade é que, num mundo no qual certos gêneros, cores de pele e origens são vistos como arrogantes e gente que pilota helicóptero sem nunca ter estudado pode chegar à Prefeitura de uma das maiores cidades do mundo. O “fake it till you make it” (finja até chegar lá) é recomendável para quem não tem toda a certeza de que o mundo te dará as oportunidades de que você precisa.
Se posso dar um conselho a quem passa por algo similar é: aceite os elogios, abrace seus lados positivos. Aceite as rosquinhas, como diria Amanda Palmer em seu A Arte de Pedir. E leve para a terapia esse seu medo de admitir o quanto é incrível. Porque a gente quase sempre é muito mais do que o mundo quer nos fazer acreditar.
Comida e conversa fiada
Andei assistindo o Dinner Time Live With David Chang (Hora do Jantar ao Vivo com David Chang) na Netflix. Eu adoro cozinhar e programas culinários me encantam há anos, mas esse tem algo que me interessa muito. Não é uma competição amalucada na qual há tempo limitado para mercado, provas esdrúxulas e maluquices do tipo, mas um tempo de conversa e apreciação da comida preparada diante dos convidados. David Chang é um chef consagrado, mas não parece ter medo de errar, improvisando, adaptando cardápios e falando abertamente sobre inseguranças e como piorou pratos de outros chefs. É um alívio ver gente incrível errando sem edição na TV, e se divertindo com isso. Recomendo.
Uma Maluquice da Porra, Sr. Trout
Comecei a ler Café da Manhã dos Campeões, do Kurt Vonnegut. Eu nunca havia lido nada do autor antes e estou achando tão incrível quanto totalmente pirado. O humor que vai do escatológico ao sutil, as bizarrices estranhas dos personagens difíceis de entender e a esquisitice geral estão me conquistando bem. Já me disseram que Matadouro 5 é essencial e deve ser meu próximo livro de Vonnegut, mas até acabar esse vou continuar em dúvida de quanto é genialidade e quanto é doideira pura.
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Mora em Salvador e quer ser migs? Quer dar em cima de mim? Quer me ameaçar por falar mal de São Paulo? Meu Instagram é j.limag e o Xwitter é @jplimag
Até a próxima,
JP
Descobri Kurt ano passado e estou pirando nos livros dele.
Sou de Salvador. Bora ser migs?
Um beijo.
perto de café da manhã e de cama de gato, matadouro 5 é no máximo médio.