Recentemente eu e a minha companheira reassistimos os filmes de X-Men, em grande parte graças ao impacto cultural de X-Men 97. Chegamos a X-Men Apocalypse (2016), e obviamente o personagem título me fez começar um monólogo de reclamações. A verdade é que eu acho personagens como Apocalypse, Darkseid, esses vilões incríveis e maiores que a vida um grande porre.
Cresci como um grande leitor de quadrinhos, era algo que meu irmão colecionava e foi uma das poucas conexões que criamos. A verdade é que me fascinava, dado que eu vivia numa casa caótica e barulhenta e quase sempre rodeada por uma aura de pessimismo, ver histórias com pessoas de capas coloridas derrotando o mal com socos e rajadas mágicas. Mas nem sempre era assim.
Conforme fui crescendo e entrando em contato com outras mídias menos maniqueístas e com mais nuances, a ideia de vilões perenes, estruturas opressivas, e de todas as coisas que não podem ser resolvidas com um simples gesto heroico, isso gerou uma coceira na mente.
A verdade é que eu sinto falta da ingenuidade da infância quando sou colocado diante de algo grande demais para se resolver com um esforço e um gesto grandioso. Foi assim que me senti diante da catástrofe no RS, como me sinto diante das questões na Palestina, sabendo que, mesmo que eu faça o que posso, nada disso é realmente impactante no cômputo geral.
Quando vejo um filme de “hominhos” usando colante, eu não quero um vilão grande e sem personalidade que é maior do que tudo e que surge apenas para criar todo um multiverso de novos problemas e coisas que estão além. Ainda mais se a personalidade dele for “poderoso e antigo”. Me dê algo para me identificar ou para odiar. Algo que seja interessante mas palpável. Algo que meus representantes na obra possam socar no queixo.
Alienação pode fazer pensar, entretenimento pode ser crítico e político. Mas ele nunca pode se distanciar tanto que paramos de nos conectar com ele. Até mesmo as creiaturas inomináveis e incompreensíveis de Lovecraft e dos seus admiradores podem ser interessantes, dado que vejamos os efeitos delas em seres humanos mais do que elas em si.
A vida já é muito cheia de problemas que não conseguimos resolver com uma voadora de dois pés. Nos meus desenhos e filmes de heróis idealizados que , convenientemente, passam pano para diversas nações imperialistas, eu quero algo que seja mais simples.
Fodam-se Apocalypse, Darkseid e companhia. Mantenham as coisas mais próximas e humanas.