Recentemente me mudei e me deparei com um monte de coisas diferentes. A distância da família (que, no meu caso, está sendo bastante benéfica para nossas relações), dos amores, de amigues, dos meus bares e locais conhecidos. Do que é o mundo cotidiano para mim.
Quase como numa fantasia de portal ou alta fantasia de viagem (isekai para os otaku) vim para uma terra mais ensolarada, repleta de cultura, com sua própria magia ( nos terreiros e noutros cantos) e que não se define em relação a outras metrópoles. Sou pouco digno de falar muito mais, ainda não explorei esse lugar o bastante. O que importa, para fins desse texto, é que não estou mais em São Paulo.
Não estar presente nos lugares de sempre traz algumas percepções curiosas. Pessoas que você quase nunca via mas moravam perto deixam de ser uma possibilidade tão simples. Restaurantes e museus que você jurava que “iria conhecer um dia” se tornar algo árduo. Você se prepara para a sensação de se tornar um turista no lugar em que nasceu e cresceu.
A verdade é que a ausência e a distância criam outros mecanismos. Algumas pessoas sentem muitas saudades, outras vão te perdendo na memória. Enviar cartas se torna algo relevante de novo, e eu estou ansioso para enviar uma para um dos meus amores (oi Babs). Você ganha um pouco mais de chances de se reinventar. Você se sente no filme sobre o Bob Dylan, Não Estou Lá.
A ideia da mudança é muito diferente da prática. Eu não estou mais no mesmo lugar, não tenho a mesma disponibilidade e não faz sentido viver como se isso fosse se reverter tão cedo. Talvez eu volte, sim, a morar na cidade em que cresci. Mas viver esperando voltar para um lar no qual nem sei mais se caibo tanto é viver pela metade.
Há quem diga que sempre se pode voltar para casa, e há quem diga que ao se voltar nunca é a mesma coisa. Talvez ambas as frases estejam parcialmente certas. Ou talvez casa seja, de fato, os amores e conexões que fazemos pelo caminho. Para mim, as pessoas são o que mais faz falta. Mas não estou exilado por uma ditadura cruel, aprisionado por uma década por um crime falso ou fugindo de uma zona de guerra.
Apenas não estou onde sempre estive. E talvez isso seja bom. Cultivarei as saudades, aprenderei com as dores e seguirei criando. Dá pra fazer Boa Arte independentemente do seu prefixo de telefone.
Até breve, um xêro.
só queria dizer que foi eu começar a ler essa newsletter e Canção da América começou a tocar aqui. Seria um sinal?
mudar é bom e traz, no mínimo, crescimento, "mesmo que o tempo e a distância digam não".
(Nunca vou perdoar Milton por não lançar um Seja um que Sejar nessa música)
Qualquer dia, amigo, a gente vai se encontrar.
mudar de estado (ou de país rs) faz um bem danado.
mas não é bolinho.
aproveita a jornada <3